segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ROQUE GONZALEZ

Roque Gonzalez de Santa Cruz nasceu em Assunção no ano de 1576, filho de Família de destacada posição social e política. Seus pais Bortolomeu Gonzalez de Valverde e Maria de Santa Cruz tiveram 10 filhos, dois deles se tornaram sacerdotes e quase todos os outros exerceram altos cargos político-administrativos.
Roque cresceu num ambiente de muita fé cristã. Foi coroinha da catedral e nessa época se dedicava a oração, comungava com freqüência e já dava prova de solidariedade aos índios guaranis. Sabe-se hoje que a mãe de Roque tinha traços de sangue guarani vindos de sua herança materna. A língua guarani era falada na família Gonzalez e o fato de Roque dominá-la com perfeição muito o ajudou na sua gloriosa jornada de catequização indígena.
Os padres da Companhia de Jesus chegaram à cidade de Assunção em 1588 e como era missão dessa Ordem Religiosa, além da ação missionária, se dedicar à educação através da criação de escolas e universidade, fundaram um colégio onde Roque passou a estudar, aprendendo latim e outras disciplinas de formação religiosa.
Em 1598 a Diocese de Assunção ficou temporariamente sem Bispo e, então, seu governador Hernandárias convidou o irmão dele Dom Fernando, que era Bispo de Córdoba, para administrar o sacramento da crisma e ordenar alguns seminaristas em Assunção. Nessa oportunidade Roque, então com 22 anos, foi ordenado sacerdote diocesano.
O jovem Padre Roque teve breve atuação missionária junto aos índios guaicurus da Região de Maracajú e por solicitação do governador Hernandárias o Vigário Capitular de Assunção o nomeou cura da catedral de Assunção. No ano de 1609 o novo Bispo de Assunção decidiu nomear o Padre Roque Vigário Geral da Diocese, mas o desejo de Roque Gonzalez trabalhar na Missão junto aos guaranis era muito forte. Por isso, solicitou ao Bispo licença para ingressar na Companhia de Jesus.
 A Companhia de Jesus organizou a Província Jesuítica do Paraguai em 1607 e dois anos depois o Padre Roque ingressou nessa Ordem Religiosa. No mesmo ano que Roque Gonzalez passou a ser noviço entre os jesuítas, em 1609, iniciou-se o processo de fundação de Reduções Jesuíticas junto aos guaranis, sendo a primeira San Ignacio Guazu (hoje cidade de mesmo nome, Departamento de Misiones – Paraguai).
Depois de dois anos de noviciado na Companhia de Jesus, em 1609 na redução de San Ignacio Guazu o Padre Roque iniciou seu extraordinário trabalho de catequização junto aos guaranis, tendo inicialmente reorganizado o sítio da redução de San Ignacio onde, com seu trabalho braçal tanto nas construções como nas lavouras, incentivou os irmãos guaranis para o trabalho e conseguindo melhorar as moradias e produzir alimentos teve melhores condições de pregar a palavra divina, cumprindo fielmente o Lema da Companhia de Jesus: TUDO PARA A MAIOR GLÓRIA DE DEUS E BEM DAS ALMAS.
Com o objetivo de colher sempre mais almas para a Igreja Católica o Padre Roque não descansava. Tendo consolidado a redução de San Ignacio partiu em busca de novas áreas para catequizar. Nessa desafiante tarefa de fundar novas reduções levava sempre junto um quadro de Nossa Senhora, representando a Imaculada Conceição, que havia ganhado do Superior Provincial da Companhia de Jesus, Padre Diogo Torres. Com a companhia desse quadro de Nossa Senhora, que ele chamava A CONQUISTADORA, o Padre Roque Gonzalez fundou mais de uma dezena de reduções (foi o jesuíta que mais fundou reduções na Província Jesuítica do Paraguai), muitas delas dedicadas a Nossa Senhora, como: Nossa Senhora da Anunciação (hoje Posadas); Nossa Senhora da Encarnação (hoje Encarnación); Nossa Senhora da Concepção (hoje Concepción de La Sierra); Nossa Senhora da Assunção (hoje no município de Roque Gonzales) e Nossa Senhora da Candelária do Caaçapamini (hoje município de Rolador).
A partir de 1615 o Padre Roque fundou reduções junto ao rio Paraná, entre elas, Nossa Senhora da Anunciación (Posadas) e Nossa Senhora da Encarnación (hoje capital de Itapuá), mas seu desejo era avançar sempre mais no seu trabalho apostólico. Assim, em 1619 solicitou e conseguiu junto aos seus superiores licença para evangelizar na região do rio Uruguai. Em dezembro desse ano de 1619 foi plantada pelo Padre Roque Gonzalez a cruz de mais uma redução, a de Nossa Senhora da Concepción a poucos quilômetros da margem direita do rio Uruguai.
Na redução de Concepción o Padre Roque Gonzalez trabalhou desde a sua fundação até 1626, tendo enfrentado nesse período grandes desafios, entre eles pestes, falta de alimentos devido a uma grande seca e a insubordinação de alguns índios, mas superou as dificuldades e consolidou a nova redução. Depois partiu para a realização de seu sonho de evangelizar os guaranis da margem esquerda do Uruguai, em terras do hoje estado do Rio Grande do Sul.
No início de maio de 1626 o Padre Roque atravessou o rio Uruguai e no dia 3 desse mês fundou a redução de São Nicolau do Piratini. No momento da Fundação de São Nicolau recém a cidade de Buenos Aires tinha se tornado independente de Assunção com a criação da Diocese de Buenos Aires e de um novo Governo espanhol na América naquela cidade. Assim, a nova área de ação missionária da Província Jesuítica do Paraguai na região do rio Uruguai passava a ser subordinada ao Governo e a Diocese de Buenos Aires. Por isso, no mês seguinte da fundação de São Nicolau, em junho de 1626, o Padre Roque Gonzalez navegou pelo rio Uruguai, numa canoa impulsionada pelos braços de índios guaranis, até Buenos Aires para se entrevistar com o Governador e o Bispo e pedir autorização para fundar reduções na região do rio Uruguai. (foi o mês de junho para descer até Buenos Aires e os meses de julho e agosto para retornar rio acima até as missões)
O padre Roque foi bem sucedido em Buenos Aires onde, além de obter a licença para evangelizar na região do rio Uruguai, recebeu o reforço de novos sacerdotes jesuítas e entre esses estavam os dois jovens companheiros de martírio: Afonso Rodrigues e João de Castilhos.
Os dois anos e meio que o Padre Roque se dedicou aos guaranis da margem esquerda do rio Uruguai (maio de 1626 a novembro de 1628) foram de intensa atividade missionária, basta lembrar que nesse escasso tempo fundou as quatro primeiras reduções jesuíticas no atual Rio Grande do Sul, foi a Buenos Aires de canoa para tratar de assuntos da Igreja e do Governo, ao Paraguai a cavalo para assistir a ordenação sacerdotal de um companheiro e ainda fundou a redução de Yapeyú.
Depois de fundar a redução de São Nicolau, o Padre Roque Gonzalez, acompanhado do Padre Pedro Romero, fundou no dia 2 de fevereiro de 1627 a redução de Nossa Senhora da Candelária de Caaçapamini (no atual município de Rolador). No ano seguinte, em fevereiro de 1628, foram realizados os primeiros batismos de adultos e crianças em Candelária pelo cura da redução Padre Pedro Romero (498 batizados) e pelos jesuítas que em novembro desse ano seriam martirizados, Padre Roque (176 batizados); Padre Afonso Rodrigues (10 batizados) e Padre João de Castilhos (10 batizados).
No dia 15 de agosto de 1628, na margem direita do rio Ijuí e nas terras dominadas pelo perigoso cacique Nheçu, na região de Pirapó, o Padre Roque Gonzalez acompanhado pelo Padre João de Castilhos fundou a redução de Nossa Senhora da Assunção do Ijuí que ficou aos cuidados do jovem missionário João de Castilhos.
No dia primeiro de novembro de 1628, o Padre Roque Gonzalez acompanhado do Padre Afonso Rodrigues fundou a redução de Todos os Santos do Caaró. No dia 15 do mesmo mês de novembro de 1628, Roque Gonzalez de Santa Cruz foi morto na redução do Caaró no momento em que atava num poste a corda que sustentaria o pequeno sino da redução e ato continuo também foi morto Afonso Rodrigues. Dois dias depois, 17 de novembro de 1628, o Padre João de Castilhos foi morto na sua redução de Assunção do Ijuí.
A ordem do cacique e feiticeiro Nheçu era a de matar todos os jesuítas das reduções do Uruguai, mas os padres de São Nicolau foram defendidos da agressão pelos índios fies aos jesuítas e sobreviveram. Da mesma forma o Padre Pedro Romero na redução de Candelária conseguiu se defender da agressão dos comandados de Nheçu por estar a cavalo.
Na tragédia do Caaro, além dos missionários Roque e Afonso, foi morto um cacique guarani ainda não batizado que diante da brutalidade do assassinato dos missionários reclamou da crueldade cometida pelos guaranis infiéis e no mesmo momento também foi martirizado. Logo depois de derramado o sangue dos mártires no Caaró, um jovem já catequizado partiu rumo a Candelária para levar a notícia do triste acontecimento ao Padre Pedro Romero.
No dia seguinte dos assassinatos de Caaró voltaram ao local os sicários para ver como haviam ficados os corpos e ao praticarem o ritual guarani de abrir o peito dos mortos (para evitar que o corpo do defunto inchasse, pois acreditavam que isso aconteceria também com o assassino do cadáver, e este morreria se não fossa aberto o corpo do assassinado) e ao tocarem no coração do Padre Roque ouviram as seguintes  palavras: “Matastes a quem vos amava e queria bem; mataste, porém, somente o meu corpo, pois minha alma está no céu. E não tardará o castigo, porque virão meus filhos para punir-vos por terdes maltratado  a imagem da Mãe de Deus. Mas eu voltarei para vos ajudar, porque muitos trabalhos vos hão de sobrevir por causa de minha morte.” (citação transcrita do livro Santos Mártires das Missões, Bispo Estanislau A. Kreutz).
Os restos mortais dos hoje Santos Mártires das Missões foram recolhidos pelos seus companheiros jesuítas e levados para a redução de Concepción, no outro lado do rio Uruguai, onde foram enterrados de acordo com o cerimonial da Igreja. Foi lá em Concepción que se deram conta que o coração do Padre Roque estava intacto, apenas com um pequeno corte provocado por uma ponta de flecha. Até hoje repousam em Concepción os restos mortais dos três primeiros mártires da Província Jesuítica do Paraguai (foram 26 ao todo), menos a relíquia do coração de Roque Gonzalez.
O coração do Padre Roque foi colocado numa caixa e devidamente identificado foi levado para Roma em 1631 e lá permaneceu por três séculos e por diversos anos ficou anônimo e esquecido, entre outros motivos, por causa da própria supressão da Companhia de Jesus por largos anos.
Quando o coração de Roque Gonzalez foi trazido de volta para a América ficou algum tempo no Colégio El Salvador, em Buenos Aires sob os cuidados dos jesuítas argentinos. Em 1960 foi transladado para sua terra natal, Assunção, onde está sob os cuidados dos jesuítas na capela do Colégio Cristo Rei.
Os Três Mártires das Missões fora beatificados em 1934 e na visita do Papa João Paulo II ao Paraguai em 1988, Roque Gonzalez foi canonizado, tornando-se o primeiro santo paraguaio.
Desde a beatificação de Roque Gonzalez a relíquia de seu coração peregrinou diversas vezes pelo Paraguai (terra Natal); pela Argentina (Roque Gonzalez lá está enterrado) e Brasil (onde Roque foi morto e doou seu sangue na ação missionária). Conforme informa o livro Santos Mártires das Missões, de Dom Estanislau Kreutz, o coração de Roque Gonzalez esteve em vários lugares no RS em 1940 (inclusive no Caaro). Também esteve nesse mesmo santuário em 1973 e 1978. Outra visita desta relíquia aconteceu em 1992, quando esteve em todas as dioceses do Rio Grande do Sul. FONTE TRILHA DOS SANTOS MARTIRES

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